“As pessoas que te conhecem muito bem criam uma imagem sólida de quem você é. E a guerreira/guerreiro acaba se sentindo compelido a não decepcionar essa expectativa tão sólida que as pessoas criaram (e que ele/ela própria alimentou) como que num acordo de sempre manter aquela personagem viva, na vida das pessoas que lhe são queridas. Seja por medo de se ver só, ou por compaixão de não ferir o sentimento dessas pessoas.
Mas quando avança sinceramente no caminho, a cada novo passo que dá na jornada do conhecimento, a cada novo entendimento e aumento do nível de energia, aquela máscara velha vai se tornando mais apertada, aborrecedora, desconfortável, desajustada com a nova forma como o guerreiro/guerreira vê a si mesmo e vê o mundo ao seu redor.
No início você pode ser e viver uma vida totalmente normal do ponto de vista social, e depois sentir o chamado por ter uma vida mais ajustada, disciplinada, orientada para o crescimento e fortalecimento da sua individualidade. Ou ser uma pessoa assim, e em certo momento sentir a necessidade de largar isso pra começar a ver a si mesma/o como alguém que simplesmente ama e quer ver o mundo através dos olhos do amor, da leveza, da criatividade, do maravilhamento, da abertura, de afeto. E tempos depois essa identidade pode ser deixada pra trás porque seu entendimento te levou a acessar uma nova faixa energética da consciência e a mudar novamente sua visão de si, no processo constante de ir limpando a ilha do tonal, e assim em diante… isso ocorrerá várias vezes, em pequena escala, com pequenas mudanças na forma como se vê o mundo… e algumas em grande escala… com mudanças radicais na própria identidade.
São raros, mas as vezes existem aqueles amigos/amigas/familiares que não criam nenhum problema em você ser livre para mudar sua personalidade e ser quem quiser ser, e até apoiam a mudança. Mas em relação aos outros, a maioria, que vão, sem más intenções, fazer todo o possível pra te manter preso/a a imagem antiga de sempre e que lhes é segura, nessa hora abrem se diferentes possibilidades:
– Você pode usar da espreita parecendo ser a mesma pessoa de sempre, enquanto vai mudando por dentro. O que cria uma situação particularmente desafiadora e dificilmente sustentável a longo prazo, de ficar oscilando entre duas posições do ponto de encaixe, ou de aprender a simplesmente atuar ser a pessoa antiga, o que também vai tornando as velhas relações vazias de significado.
– Você pode ser radical e se afastar dessas pessoas que te conhecem bem pra poder se libertar totalmente das obrigações em relação a essa máscara, e assumir uma nova identidade mais condizente com seu sentimento atual, o que obriga a lidar diretamente com o medo (de estar só) e com a não compaixão por si. Mas também com o tempo se abrem novas relações, com pessoas que te conhecem e sustentam essa nova imagem.
– Você pode artisticamente forçar uma atualização da imagem que as pessoas mais próximas tem, uma a uma, pra que elas aceitem a sua nova identidade
Mas o mais prático, e que se faz necessário no caminho de crescimento constante em entendimento, é seguir o conselho de apagar pouco a pouco a própria história pessoal, e se deixar envolver pelo que o nagual Juan Matus chamou mais ou menos de “uma névoa de mistério”. Assim as pessoas aceitam mais facilmente que você esteja em constante mudança, e não se apegam a uma imagem fixa sua.
Toda a jornada do tonal desajustado até o nagual é uma jornada evolutiva da imagem de si…
Uma jornada da imagem de si.
Essa jornada sincera, essa aventura, onde o Espírito toca o guerreiro/guerreira em diferentes momentos… e se revela e vela novamente em raras ocasiões… e onde o ponto de encaixe vai se deslocando de forma gradual… é um processo de amadurecimento… que leva naturalmente e inevitavelmente ao momento em que se está disposto/a e apto/a a abandonar a imagem pessoal de si em definitivo…
em que se está pronto/a pra começar a estar consciente do Espírito, enquanto Espírito…“
(Jeremy Christopher)