“Fomos ver um filme épico em tecnicolor e cinerama. Era um desses filmes insuportáveis e longos que pareciam atrair toda a atenção de Rodrigo. Quando saímos do cinema, já estava escurecendo. Fui com toda velocidade para Burbank no meio de um transito pesadíssimo. Ele exigiu que fossemos pelas ruas ao invés da autopista, que nesse horário estava congestionada. O Avião decolou quando chegamos no aeroporto. Foi a última gota. Submisso e derrotado, Rodrigo foi ao caixa e apresentou seu bilhete para que o reembolsassem. A atendente escreveu seu nome, deu-lhe um recibo e disse que o dinheiro chegaria dentro de seis a doze semanas do Tennessee, onde se encontravam os escritórias de contabilidade da empresa aérea.
Voltamos ao prédio onde nós dois vivíamos. Como não tinha se despedido de ninguém desta vez, por medo de passar vergonha, ninguém nem sequer tinha se dado conta de que ele tinha tentado partir mais uma vez. O único inconveniente era que ele tinha vendido seu carro. Me pediu que o levasse até a casa de seus pais, porque seu pai lhe daria o dinheiro que tinha gasto com sua passagem. Seu pai sempre tinha sido, durante o tempo inteiro em que eu o havia conhecido, o homem que tirava Rodrigo de apuros, em cada situação problemática em que se metia.
O slogan do pai era: “Não tema, Rodrigo pai está aqui!”. Depois de ouvir o pedido de empréstimo de Rodrigo para pagar seu outro empréstimo, o pai olhou meu amigo com a expressão mais triste que eu jamais havia visto.
Ele próprio estava com terríveis problemas econômicos.
Disse, abraçando-o: “Não posso te ajudar desta vez, meu rapaz… Agora sim você tem que temer, porque Rodrigo pai não está aqui”.
Quis desesperadamente sentir empatia por meu amigo, sentir seu drama como sempre havia feito, mas não pude. Só me enfoquei na declaração de seu pai. Havia uma finalidade nela que me galvanizou.
Busquei avidamente a companhia de dom Juan. Deixei tudo que estava pendente em Los Angeles para viajar até Sonora. Contei-lhe sobre o estranho humor em que me encontrava em relação a meus amigos. Chorando de remorsos, disse-lhe que havia começado a julgá-los.
– Não se estresse por nada – disse dom Juan calmamente. Já sabe que uma era inteira da sua vida está por terminar, mas a era não termina até que o rei morra.
– O que quer dizer com isso, dom Juan?
– Você é o rei, e você é exatamente como seus amigos. Essa é a verdade que te está fazendo tremer nas suas calças.
Uma coisa que pode fazer é aceitar as coisas como são, o que claro, não pode fazer. A outra é dizer: “Eu não sou assim, eu não sou assim”, e repetir você não é assim.
Mas te prometo que vai chegar o momento em que vai se dar conta de que é assim, sim.”
(O Lado Ativo do Infinito, Carlos Castañeda)