“(Dom Juan:) Tudo o que sei é o que significa para os guerreiros. Eles não ignoram que a única energia real que possuímos é a energia sexual, que confere vida. Esse conhecimento toma-os permanentemente conscientes de sua responsabilidade.
“Se os guerreiros desejam ter energia suficiente para ver, devem tornarse avaros com sua energia sexual. Essa foi a lição que o nagual Julian nos deu. Empurrou-nos para o desconhecido e todos nós quase morremos. Como cada um de nós desejava ver, naturalmente nos abstivemos de desperdiçar nosso brilho da consciência.”
Já o ouvira manifestar essa convicção antes. Cada vez que o fazia, começávamos uma discussão. Sempre me sentia impelido a protestar, a levantar objeções ao que achava ser uma atitude puritana em relação ao sexo.
Coloquei novamente minhas objeções. Ambos riram até as lágrimas.
— O que pode ser feito com a sensualidade natural do homem? — perguntei a Dom Juan.
— Nada — replicou. — Não há nada de errado com a sensualidade do homem. É a ignorância do homem e o desrespeito por sua natureza mágica que estão errados. É um engano desperdiçar à toa a força do sexo que confere vida e não ter filhos, mas também é um engano não saber que, tendo filhos, a pessoa compromete o brilho da consciência.
— Como os videntes sabem que ter filhos compromete o brilho da consciência?
— Eles vêem que, ao terem um filho, o brilho da consciência dos pais diminui e o da criança aumenta. Em alguns pais supersensíveis e frágeis, o brilho da consciência quase desaparece. À medida que as crianças aumentam a consciência, uma grande mancha preta se desenvolve no casulo luminoso dos pais, no exato lugar do qual o brilho foi retirado. Isto ocorre geralmente na seção média do casulo. Às vezes, esses pontos podem mesmo ser vistos sobrepostos no próprio corpo.
Perguntei se havia algo a ser feito para dar às pessoas uma compreensão mais equilibrada do brilho da consciência.
— Nada — disse ele. — Ao menos, não há nada que os videntes possam fazer. Os videntes almejam ser livres, ser testemunhas imparciais incapazes de qualquer julgamento; de outra maneira, teriam de assumir a responsabilidade de iniciar um ciclo mais ajustado. Ninguém pode fazer isso, O novo ciclo, se acontecer, terá de vir por si mesmo.”
(O Fogo Interior, Carlos Castañeda)