“- O primeiríssimo princípio da Espreita é que um guerreiro espreita a si mesmo. Espreita a si mesmo implacavelmente, com esperteza, paciência e docilmente.- disse Don Juan.
De modo muito sucinto, ele definiu a Espreita como a arte de usar o comportamento de maneiras novas para propósitos específicos. Explicou que os videntes dos tempos antigos, através de sua visão, primeiro haviam notado que um comportamento incomum produzia um tremor no ponto de aglutinação, o centro energético da nossa percepção e consciência. Depois descobriram que se o comportamento incomum era praticado sistematicamente e dirigido com sabedoria, forçava no final o movimento do ponto de aglutinação.
– Qualquer um que tenha sucesso em mover seu ponto de aglutinação para uma nova posição é um feiticeiro. E a partir dessa nova posição, pode-se fazer todos os tipos de coisas boas e más aos seus semelhantes. A causa dos guerreiros modernos é ir além dessa posição. E para fazê-lo necessitam de moralidade e beleza.
– O desafio real para esses videntes- continuou Don Juan – era encontrar um sistema de comportamento que não fosse mesquinho nem caprichoso, mas que combinasse a moralidade e o senso de beleza que diferencia os videntes Toltecas dos bruxos comuns.
Disse que para esses videntes a Espreita era o alicerce sobre o qual tudo o mais que faziam era construído.”
(O Poder do Silêncio, Carlos Castañeda)