“- O único jeito de contrabalancear os efeitos devastadores do mundo dos brujos é rir dele. É seu dever tranquilizar sua mente. Os guerreiros não conquistaram suas vitórias batendo com suas cabeças contra os muros, e sim conquistando os muros. Os guerreiros saltam por cima dos muros; não os destroem.
– Como posso saltar por cima deste? – perguntei.
– Antes de tudo, acho um erro fatal você levar qualquer coisa tão a sério assim – disse ele, sentando-se ao meu lado. – Existem três tipos de maus hábitos que usamos repetidamente quando confrontados com situações incomuns da vida. Primeiro, podemos desconsiderar o que está acontecendo ou aconteceu e sentir como se nunca tivesse ocorrido. Essa é a maneira do fanático. Segundo, podemos aceitar tudo pelas aparências e sentir como se soubéssemos o que está acontecendo. Essa é a maneira do homem piedoso. Terceiro, podemos ficar obcecados com um evento porque não podemos desconsiderá-lo ou não podemos aceitá-lo totalmente. Essa é a maneira do tolo. Há uma quarta, a correta, a maneira do guerreiro. Um guerreiro age como se nada tivesse acontecido, porque ele não acredita em nada, mas aceita tudo pelas aparências. Ele aceita sem aceitar e desconsidera sem desconsiderar. Ele nunca se sente como se soubesse, nem como se nada tivesse acontecido. Ele age como se estivesse no controle, mesmo que esteja tremendo nas suas botas. Agir de tal maneira dissipa a obsessão.”
(Porta para o Infinito, Carlos Castañeda)