“Castañeda: A aprendizagem do ensonho não ofende, o máximo que você pode fazer é não acreditar que tal coisa é possível. Por outro lado, a espreita, da maneira como praticam os bruxos, é muito ofensiva para a razão. Muitos guerreiros evitam falar sobre isso, porque não têm estômago para agüentá-lo. Na fase inicial, o aprendiz fica no fogo cruzado e se sente frustrado, não consegue sair do seu ego.
“A espreita é como uma moeda, tem duas caras. Por um lado, é a coisa mais fácil que há, e por outro, é uma técnica muito difícil, não porque seja complexa, mas porque trata de aspectos sobre si mesmas que as pessoas normalmente não querem tratar.
“A espreita induz movimentos minúsculos, mas muito sólidos, do ponto de aglutinação; não é como o ensonho que o move profundamente; mas retrai como um elástico e volta imediatamente ao que você era. Quando espreita, você segue vendo tudo igual como sempre, por isso você tentará aplicar critérios cotidianos às coisas. Se em uma dada circunstância como esta, você é forçado a alguma mudança por seu instrutor, a coisa mais certa é que você ficará ofendido ou ferido em seu orgulho e se afastará do ensino”.
Perguntei qual era, então, o modo como os bruxos transmitiam essa arte.
Respondeu que, tradicionalmente, é ensinado em estado de consciência acrescentada e é deixada para o fim.
“Isso não é algo que possa ser dito logo de cara. É necessário entendê-lo nas entrelinhas. Esta parte da aprendizagem pertence aos ensinamentos para o lado esquerdo. Leva muitos anos para ser lembrado em que consiste, e outros tantos mais para poder levá-lo à prática.
“No nível em que você está agora, a única coisa que lhe permite agüentar a espreita é abordar isto com métodos de ensonho. Se em algum momento você sente que estou tocando tópicos demasiado pessoais ou as suspeitas o tomam, olhe para suas mãos ou use qualquer outro convocador que você tenha escolhido. A atenção dos ensonhos ajudará a mover sua fixação”.
(Encontros com o Nagual, Armando Torres)