“- Vou propor uma linha de ação para você- falou num tom cortês, quando terminamos o almoço. – É a última tarefa do terceiro portão do sonhar, e consiste em espreitar os espreitadores; uma manobra misteriosíssima. Espreitar os espreitadores significa que você deliberadamente retira energia do mundo dos seres inorgânicos com o objetivo de realizar um ato de feitiçaria.
– Que tipo de ato de feitiçaria, Dom Juan?
– Uma viagem; uma viagem que usa a consciência como um elemento do ambiente. No mundo da vida cotidiana a água é um elemento do ambiente que usamos para viajar. Imagine a consciência como um elemento semelhante, que pode ser usado para viajar. Através da consciência batedores de todo o universo vêm até nós. E através da consciência os feiticeiros vão aos confins do universo.
Havia alguns conceitos, dentre a enorme quantidade de conceitos que Dom Juan me fizera conhecer no decorrer de seus ensinamentos, que não precisavam de insistência para atrair meu interesse total. Esse era um deles.
– A idéia de que a consciência é um elemento físico é uma coisa revolucionária – falei espantado.
– Não falei que ela é um elemento físico – ele me corrigiu. – É um elemento energético. Você precisa fazer essa distinção. Para os feiticeiros que vêem, a consciência é um brilho. Eles podem atrelar seu corpo energético àquele brilho e viajar com ele.
– Qual é a diferença entre um elemento físico e um elemento energético? – perguntei.
– A diferença é que os elementos físicos são parte de nosso sistema de interpretação, mas os elementos energéticos não. Os elementos energéticos, como a consciência, existem em nosso universo. Mas nós, como pessoas comuns, só percebemos os elementos físicos porque nos ensinaram isso. Os feiticeiros percebem os elementos energéticos pelo mesmo motivo: porque lhes ensinaram a fazê-lo.”
(A Arte do Sonhar, Carlos Castañeda)