“Tem uma certa intenção, uma tensão nos olhos, um jeito de olhar pras coisas, pelo filtro da interpretação, do movimento das memórias de agarrar as coisas do tonal com os olhos, que cria a realidade emocional do mundo, e que a sustenta e se retroalimenta dela.
Tomando consciência disso é possível evocar o intento de silenciar essas intenções que existem em torno e por trás dos olhos. Anulá-las. Simplesmente intentar testemunhar pela vista com neutralidade, relaxando os músculos sutis ao redor dos olhos. Como uma câmera ligada registrando mas sem ninguém atrás, sem nenhum cameraman ou woman, apenas o sentir. E depois de passar por essa “marcha neutra”, se houver vontade e energia livre, dá pra engatar / evocar uma intenção específica no olhar, uma certa intensidade de brilho, como ele ensina no Poder do Silêncio, pra induzir o deslocamento da percepção para a posição e sentimento intentados.
A intenção de “maravilhamento e assombro”, como dom Juan dizia, desperta o olhar do nagual.
A dissolução dessas tensões também é um processo que ocorre gradualmente, a longo prazo, na caminhada aliada à economia de energia. Limpar a ilha do tonal é limpar a nós mesmos, fazer inventários impecavelmente e depois nos esvaziar dos significados e permanecer com o sentir a partir da nossa unicidade. Porque as coisas só são reais no e enquanto tonal na medida que carregam significados pra gente. O tonal se desapega das suas criações, tanto as que teme quanto as de que se orgulha, quando tá forte interiormente, com sua clareza sob controle e confiante na sua conexão com o Mistério.
Ampliar mais intensamente a abertura da brecha do casulo com as emanações internas agitadas pode ser perigoso mesmo. Mas quando elas se acalmam, é mais fácil de se deixarem fundir com o que tá lá fora. Aí é hora de dar adeus pra razão e boa noite pro mundo.”
– Jeremy Christopher