“O nagual Jhon Abelar riu, como se tudo que Clara tivesse dito sobre a importância crucial dele em relação ao grupo de videntes fosse uma brincadeira, mas Clara sustentou meu olhar tempo suficiente para fazer-me perceber que ela estava falando cada palavra a sério.
O silêncio que se seguiu foi finalmente rompido pelo Sr Abelar:
— Para ativar o ´corpo sutil´, aquele que seus professores de Karatê manipulavam, em primeiro lugar você tem de abrir certos centros físicos que funcionam como portais. Quando todos os portais se abrem, seu duplo pode emergir da sua capa protetora. Caso contrário, o duplo permanecerá eternamente encerrado em sua carapaça externa;
Ele pediu a clara para pegar uma esteira no armário, estendeu-sa no chão e pediu-me para deitar de costas, os braços ao lado.
— O que vai fazer comigo? — perguntei, desconfiada.
— Não é o que você está pensando — retrucou ele de modo malicioso.
Clara deu uma risadinha.
— Taisha realmente é tão desconfiada com os homens — explicou ao Sr Abelar.
— Isso não lhe tem feito bem algum — replicou ele, deixando-me profundamente constrangida.
Então, olhando para mim, explicou que ia me mostrar um método simples de mudança de consciência do meu corpo físico para a rede etérica que nos envolve.
— Deite-se e feche os olhos, mas não adormeça. — ordenou ele.
Constrangida, fiz o que ele pediu, sentindo-me estranhamente vulnerável, deitada ali à sua frente. Ele se ajoelhou a meu lado e falou-me em voz suave:
— Imagine linhas deixando seus lados do corpo, começando pelos pés.
— E se eu não conseguir imaginá-las?
—Se você quiser, com certeza vai conseguir. Use toda a força de sua intenção e certeza de que as linhas existam.
Ele explicou que não se tratava realmente de imaginar as linhas, mas sim de um misterioso ato, que consistia em puxá-las da região lateral do corpo, iniciando pelos dedões dos pés, e continuando até o topo da cabeça. Ele afirmou que eu também deveria sentir linhas emanando das plantas dos meus pés e descendo e envolvendo todo meu corpo, formigando até a nuca; e também ainda outras linhas da parte dianteira do meu corpo, até os pés, formando assim uma rede ou casulo de energia luminosa.
— Pratique isso até você conseguir abandonar seu corpo denso e concentrar a atenção, quando quiser, em sua rede luminosa — disse ele — No final, você conseguirá concentrar e manter essa rede pelo corpo inteiro integrada, com um único ato de intenção.
Então tentei relaxar. A voz do Sr Abelar era tranquilizadora, hipnotizante; ás vezes parecia vir de muito perto, e outras vezes de longe. Ele explicou que se em alguma parte de meu corpo a rede estivesse rígida, fosse difícil de alongar as linhas, ou as linhas estivessem emaranhadas, significaria que aquele local estava fraco ou danificado.
—- Vocé pode curar estas regiões permitindo que o duplo amplie a rede etérica —falou Sr Abelar.
— Como posso fazer isso?
— Tendo a intenção, mas não com sua mente ruidosa de dúvidas e pensamentos. `Pretenda com sua vontade, que é a camada abaixo de sua mente ruidosa. Ouça atentamente, procure-a sob seus pensamentos, longe deles. A intenção está tão distante da camada dos pensamentos e imagens que distraem, na profundeza do conhecimento silencioso, que nem podemos exatamente referir sobre ela e nem mesmo sentí-la, mas podemos alcançá-la com a vontade.
Eu não consegui sequer conceber como poderia pretender com minha intenção. O Sr Abelar disse que eu não deveria ter muita dificuldade em lançar minha rede, pois, nos últimos meses, sem saber, eu estava projetando essas linhas etéricas durante minha recapitulação na caverna.
Sugeriu então que eu me concentrasse na respiração. Passado um tempo que pareceu horas, durante o qual devo ter cochilado uma ou duas vezes, finalmente pude sentir um intenso formigamento nos pés e na cabeça. O calor expandiu-se, formando um balão que envolveu meu corpo inteiro.
Com voz suave, o Sr Abelar lembrou-me que eu deveria concentrar minha atenção no calor emanado pelo corpo etérico-sutil e tentar alongá-lo, lançando-o de dentro para fora, permitindo que se expandisse.
Concentrei-me na minha respiração, até desaparecer toda a tensão do meu corpo. Á medida que fui relaxando, deixei que o calor formigante encontrasse seu próprio caminho; ele não avançou para fora nem se expandiu, mas sim contraiu-se até que eu me senti deitada em um balão gigantesco, flutuando no espaço. Por um momento fui tomada de pânico; minha respiração parou e sentia-me sufocar momentaneamente. Mas então alguma coisa fora de mim mesma assumiu o comando e começou a respirar por mim. Ondas de energia tranquilizante envolveram-me, expandindo-se e contraindo-se até que tudo escureceu e não mais consegui concentrar minha consciência em nada. “
(A Travessia das Feiticeiras, Taisha Abelar)
(Compartilhado por Esperanza Flores no grupo Nagualismo do Novo Ciclo Holístico/EspreitaEnsonharIntento-Criatividade)
Comentário de Esperanza:
“Meu parecer: a concentração na respiração se faz muito mais intensa e produtiva se focalizarmos no centro do silêncio abaixo do umbigo e acima da pube, referido nos livro de passes mágicos de Castaneda, e também por dom Juan (aliás, John Abelar, como também pelos taoistas e acupunturistas como dan-tien, ou tan-tien). Pra muito a formigação e a duplicação começa pelos pés e mãos mas pode acabar assim que atinge a garganta e a resistência impede duplicar a cabeça, ou melhor ampliar a rede etérica-sutil tomando o corpo inteiro como um balão. Existem muitos obstáculos para os que realizam esta conquista sozinhos, sem a sugestão amparada de outro (a) com experiência. O uso de plantas enteógenas certamente pode ampliar esta duplicação da rede etérica e afrouxar o ponto de aglutinação, mas como a maioria não tem senso de sobriedade, correm perigos com o excesso e descontrole, certamente. Intento! “