Dom Juan: O desconhecido torna-se o conhecido em um dado momento. O incognoscível, por outro lado, é o indescritível, o impensável, o inconcebível, É algo que jamais será conhecido por nós, e ainda assim está ali, fascinando e ao mesmo tempo horrorizando em sua vastidão.
— Como podem os videntes fazer a distinção entre os dois?
— Existe uma regra muito simples. Diante do desconhecido, o homem é aventureiro. Dar-nos uma sensação de esperança e felicidade é uma qualidade do desconhecido. O homem sente-se robusto, jovial. Mesmo a apreensão que o desconhecido desperta é muito gratificante. Os novos videntes viram que o homem fica em sua melhor forma diante dele.
Ele disse que, sempre que o que é tomado como sendo o desconhecido revela-se como o incognoscível, os resultados são desastrosos. Os videntes sentem-se exauridos, confusos. Uma terrível opressão toma posse deles. Seus corpos perdem o tônus, seu raciocínio e sua sobriedade ficam desnorteados, pois o incognoscível não tem qualquer efeito energizante. Não está ao alcance do homem, e por isso não deveria ser invadido totalmente ou mesmo com prudência. Os novos videntes perceberam que tinham que estar preparados para pagar preços exorbitantes pelo menor contato com o incognoscível.
(Carlos Castaneda, O Fogo Interior)