“Sílvio Manuel olhou fixamente para mim. Seus olhos eram negros, como duas peças de obsidiana brilhantes. Sem mover um músculo, deixou escapar um perfurante grito de pássaro.
– Intento! berrou ele. – Intento!! Intento!!!
A cada grito sua voz tornava-se mais desumana e perfurante. Os cabelos atrás de meu pescoço ficaram em pé. Senti minha pele se arrepiando.
“Minha mente, entretanto, em vez de localizar-se no pavor que eu estava experimentando, partiu diretamente para recordar a sensação que eu tivera. Mas antes que eu pudesse saboreá-la por completo, a sensação expandiu-se e expandiu em algo mais.
“Compreendi então não apenas por que a consciência intensificada era o portal do intento mas também compreendi o que era o intento. E, acima de tudo, compreendi que aquele conhecimento não podia ser transformado em palavras. Aquele conhecimento ali estava para qualquer um. Ali estava para ser sentido, ser usado, mas não explicado.
“Um indivíduo podia penetrar nele mudando de nível de consciência, portanto a consciência intensificada era uma entrada. Mas mesmo a entrada não podia ser explicada. Podia-se apenas fazer uso dela.
“Houve ainda uma outra peça de conhecimento que veio a mim naquele dia sem qualquer coação: que o conhecimento natural do intento era disponível para qualquer um, mas o seu comando pertencia àqueles que o investigavam…”
(Carlos Castañeda, O Poder do Silêncio)