“Sempre que tinha oportunidade dom Juan afirmava que a energia necessária para liberar a atenção sonhadora de sua prisão socializante vinha de redistribuir nossa energia existente. Nada poderia ser mais verdadeiro.
O surgimento da atenção sonhadora é um corolário direto de remodelação de nossas vidas. Já que, como disse Dom Juan,não temos como buscar uma fonte externa para reforçar nossa energia, devemos redistribuir nossa energia existente através de qualquer meio disponível.
Dom Juan insistia em que o caminho dos feiticeiros era o melhor jeito de lubrificar, por assim dizer, as engrenagens da redistribuição da energia, e que de todos os itens do caminho dos feiticeiros o mais eficaz é perder a autoimportância.
Ele estava totalmente convencido de que isso é indispensável para tudo que os feiticeiros fazem, e por isso fazia um esforço enorme em guiar todos os seus alunos a cumprir essa exigência. Era de opinião que a autoimportância não é apenas o inimigo supremo dos feiticeiros, mas a nêmesis da humanidade.
O argumento de Dom Juan era que a maior parte de nossa energia vai para o sustento de nossa importância. Isso fica mais óbvio em nossa infinita preocupação com a apresentação do EU; com o fato de sermos ou não admirados ou amados ou reconhecidos. Ele dizia que, se formos capazes de perder parte dessa importância, duas coisas extraordinárias nos aconteceriam. Uma, libertaríamos nossa energia da tentativa de manter a ideia ilusória de grandeza; e duas, daríamos a nós mesmos energia suficiente para entrar na segunda atenção e vislumbrar a grandeza real do universo.”
(A Arte do Sonhar, Carlos Castañeda)
(Créditos pela digitação: Izaias Borba)