Quando me convidaram para escrever sobre Xamanismo neste portal fiquei um tempo meditando. O que escreveria, de que forma colocar algo sobre o xamanismo que abranja o heterogéneo público que visita tais locais virtuais, pessoas com diferentes vidas singulares. Poucos param para meditar como nossa vida , nosso dia a dia afeta profundamente nossa linguagem, nossa compreensão de mundo, poucas pessoas se detém para meditar, ao menos uma vez por dia, sobre os eventos que estão ocorrendo, sobre “sua” (?) vida, sobre o que faz o que sente e o que pensa. Usamos a linguagem, mas poucas vezes paramos pra meditar que somes criaturas de sintaxe. nossa compreensão do mundo está associada a forma de nossa linguagem, descrevemos um mundo, tecemos uma descrição de mundo que tomamos por “realidade”.
Somos fruto de todo um processo civilizatório, recebemos influencias das mais diversas e nossa “compreensão” de mundo é uma “descrição”. Uma descrição muitas vezes cheia de contradições interiores, muitas de nossas “teorias” de mundo pouco funcionam na realidade. Os eventos nos jogam na cara que temoss muitas “teorias” que na prática do dia a dia não funcionam. Mas temos amortecedores que nos permitem conviver com descrições contraditórias de mundo sem perceber diretamente isso.
Não é a toa que de tempos em tempos algumas pessoas piram na sociedade, entram em choque com a visão de mundo que tem e o mundo que está de fato lá fora e então profundos questionamentos surgem, questionamentos sobre a existência em vários níveis, vários aspectos.
Algumas pessoas tentam fugir disso, usam os mais diversos recursos para se alienarem dos fatos, para manter uma “descrição” da realidade que lhes permita continuar em suas mesmas vidas, que lhes permita continuar sem muito esforço, “sobrevivendo’.
Mas outras parecem ter uma inquietude interior que não lhes permite acomodar-se com “desculpas”, “teorias consoladoras”, “promessas de um paraíso após a morte”, algumas pessoas querem entender melhor o mundo, este mundo, onde estamos e buscam tal compreensão mais apurada para que a partir dela possam se inserir melhor na realidade, na vida efetiva e agir de tal forma que alcancem de fato suas metas e não fiquem apenas tergiversando, apenas com justificativas e desculpas, mas tenham de fato uma vida de realização. Isto é raro, muito raro, pessoas que realizam, pessoas que vivem como querem viver. O xamanismo que falo aqui é um xamanismo guerreiro, um xamanismo de quem se propõe a estar no mundo de forma plena, atingir o SER e não apenas o sobreviver.
Estudando alguns caminhos xamânicos, em conjunto com outros caminhos, numa abordagem transdisciplinar, fui percebendo que existe um xamanismo que é uma tradição emanada da aurora dos Tempos, um xamanismo praticado por irmandades de homens e mulheres através de eras e eras.
E ao descobrir isso, percebi também que toda a história tal qual contam para nós tem problemas sérios em sua realidade. Primeiro porque ouvimos a história dos conquistadores, dos povos que tiraram nativos da África e trouxeram para a América, onde já estavam destruindo, pela morte do corpo, ou convertendo e matando a alma, os nativos que aqui viviam há muito, muito tempo, milhares de anos, com culturas próprias, complexas, fascinantes culturas, dotadas de grande magia mas comprovadamente com fragilidades. A visão de realidade restrita, bitolada mesmo, do Conquistador permitiu que tivessem êxito, levou a uma habilidade de destruir povos com amplitudes vastas de percepções, povos que foram atacados e explorados em sua ingenuidade e honra. Se estudarmos a qualidade de vida dos povos dizimados e a do Conquistador vamos notar que os paradigmas dos Conquistadores eram muito menos eficientes para a sobrevivência frente a realidade que os dos conquistados. O Conquistador não tinha nenhuma abordagem ecológica ou sistêmica da realidade, só queria conquistar, tirar o que lhe servia e “cuspir o bagaço”. Tem sido assim, desde a conquista deste continente, recursos naturais sendo levados embora e a área degradada e poluída deixada como pagamento.
Portanto, este é um dado muito interessante que nos salta a vista quando estudamos que existe todo um risco de extinção pairando sobre muitas espécies, gerado pela nossa cultura exploradora. Já extinguimos um número elevadíssimo de espécies animais e vegetais, mudamos vários locais do mundo, temos um risco de extinção de toda a vida, gerada pelas armas de guerra, milhares de ogivas nucleares espalhadas pelo mundo, algumas em mãos fanáticas que não temem destruir tudo em nome de suas crenças, pensando em tudo isso fica claro que este modelo civilizatório que aí está, embora tenha desenvolvido uma tecnologia específica muito forte, embora tenha dado alguns avanços na medicina, ( mas é incapaz de curar uma gripe), este sistema está superado. Se quisermos apenas sobreviver, já precisamos questionar os estilos dominantes, politicamente, economicamente, socialmente, existencialmente, em todos os setores da vida humana sabemos que as respostas desse sistema que aí está não são satisfatórias.
Agora se quisermos mesmo “VIVER” aí sim precisamos ir longe, precisamos ousar olhar para esta porta lateral, que de vários modos o sistema dominante tenta manter oculta, despercebida, uma porta que leva para outra realidade, uma porta que pode nos levar para os paradigmas de outros povos, para caminhos com uma descrição de realidade e propostas de ação que estão muito distantes do que esse sistema dominante quer manter como “única e possível” forma de viver e compreender a realidade.
Não precisamos ler autores místicos para compreender isso, creio que até é perigoso frente a literatura escapista que há por aí sobre o tema. Lendo Alvin Toffier, “A Terceira Onda”, já teremos muita informação sobre essa transição da Onda Industrial para uma ‘terceira onda”, com novos paradigmas, inclusive paradigmas ecológicos e espirituais.
A questão é que tanto “ecológico” como “espiritual” foram termos açambarcados por instituições e pessoas que usaram o termo em sentidos limitados, em sentidos muito distantes de sua amplitude original, assim estes termos ficaram empobrecidos e confundem a muitos.
O Xamanismo é uma das respostas que outras culturas tem ao desafio da vida, não é apenas “habilidade de certos homens e mulheres de entrar em transe, por indução do som de tambores, danças exaustivas ou ingestão de substâncias alucinógenas”, é muito mais que isso, é o complexo sistema de relação com a natureza que povos diversos tiveram por eons. Para começar, a forma destas outras culturas sentirem a vida, a si mesmas, aos outros entes existentes, considerando inclusive realidades, mundos paralelos e seus habitantes, algo que a Ciência oficial ainda nega, enfim, a forma de estar e ser no mundo de outros povos é bem diferente da atual, da civilização dominante. Portanto o xamanismo exige mudanças perceptivas e paradigmáticas para ser realmente “praticado” e não apenas “imitado” ou ainda “seguido”., Xamanismo pela sua estrutura mesma não é para ser “seguido”, mas sim praticado. Xamanismo é uma complexa teia de atitudes, práticas, tradições que remontam a milênios e que vem sendo praticadas por muitos povos, povos que estão ameaçados de sumirem da história e desta realidade pela ação invasiva e sem ética dos chamados “civilizados”.
Não estou pregando o mito do bom selvagem, mas devemos entender que os jogos de poder das classes governantes, dos que se intitularam nobres, aristocratas, que por determinadas e indeterminadas razões, se arvoraram em descrever o que era certo e errado para a humanidade, geraram uma civilização interessada no saque, sem se preocupar que o genocídio de todo um povo ocorresse.
Os paradigmas predominantes na civilização dominante estão embasados em guerras de conquista, saque, genocídio, humanos conquistando e escravizando humanos, uso do ser humano como objeto, valores violentos que muitos tem por “natural” no ser humano.
É muito sério pensar sobre isso, os “donos do poder” gostam de gerar uma idéia que o mundo é “assim”, que não existe outro caminho. Mas a realidade está mudando, há pouco mais de 50 anos atrás falar de industrias que não agredissem o meio ambiente ,desde a coleta de matéria prima até a entrega do produto ao cliente e ainda ajudassem a comunidade onde estavam inseridas em práticas de consciência ao meio ambiente poderia parecer piada. Hoje toda empresa que queira manter seu ISO 14000 age assim. Mas não podemos esquecer que junto aos saqueadores vieram aqueles que só queriam “um novo lar” ,queriam se estabelecer aqui e gerar uma nova história de vida. Estes sempre foram explorados pelos “conquistadores” que buscavam usar dos serviços de todos (escravos e homens livres) para enriquecer logo e poder ostentar a riqueza na “côrte” .
Vieram também os que tinham por função e missão zelar pelo que acreditavam ser a ‘Vontade de Deus”, usando de todos os meios para “impor sua “conversão” . Essas três classes, exploradores, fugitivos (com várias causas) e sacerdotes de um culto proselitista, que tinham o poder como “presente de Deus” e só admitiam suas idéias, levando ao fogo da Inquisição e suas torturas quem insistisse em manter-se fiel aos antigos ritos, aos antigos costumes.
Vieram para este continente e usando armas, com suas doenças para as quais os nativos não tinham defesa, usando de divisões internas nas nações nativas ja expostas ao imperialismo de outras, souberam agir de forma rápida e direta e em menos de dois séculos de ação ja dominavam o continente como um todo, suprimindo a presença nativa, destruindo suas historias, o que podiam de seus monumentos, destruindo tudo que pudesse lembrar que uma civilização com respostas muito mais inteligentes e eficientes frente a realidade da existência existira ali.
Todo o saber dos templos, das tradições secretas dos povos nativos foi sendo perseguido e a parte ‘exotérica” caiu quase completamente, pois era mantida nas danças, nas histórias, nas tradições, nos costumes diários de uma civilização e a maior parte das povoações foram obrigadas a abandonar seus estilos milenares de vida e adotar o estilo imposto pelo conquistador, inclusive seu deus único e seus deuses menores, como os santos e anjos.
A sociedade dominante, branca, européia, cristã e mercantilista se impunha, impunha seus valores e o xamanismo fica cada vez restrito a grupos que escapam da perseguição se refugiando em locais distantes ou disfarçando-se de “convertidos” e bons “servos”.
Portanto o xamanismo passou por uma época de profunda repressão durante a invasão deste continente, muitos grupos foram perseguidos, templos e livros queimados, estátuas que tinham bem mais que a representação de imagens, mas sim de princípios cósmicos, tudo destruído em nome da “Verdadeira Fé”.
Dentro dessa compreensão vamos perceber que muitos caminhos xamânicos se extinguiram, assim como as civilizações que os geraram, foram ou destruídos completamente ou absorvidos em adaptações que acabaram deturpando irremediavelmente o conhecimento original e só a forma, não o conteúdo, foi mantida, gerando assim ritos e práticas que tem um “apelo” visual, mas não a função de manipular conscientemente a energia que está em tudo.
É muito importante perceber isso, existem práticas realizadas por xamãs em vários povos e tradições que estão ligadas a uma adaptação realizada nessas difíceis condições de opressão, assim há uma forma externa, tanto na prática ritualística, como nas lendas e informações transmitidas, que agrada o opressor, de acordo com sua religião e tal, e há uma prática profunda, podemos dizer “esotérica” onde os
paradigmas ancestrais, onde o conhecimento em si é passado.
O Xamanismo em muitas de suas vertentes secou antes de chegar a nós, assim por vezes temos leitos secos, conhecimentos fragmentados, práticas que misturam cristianismo dos conquistadores com outras práticas suas. Temos muitas vezes um conjunto de informações e saberes que estão agora numa linguagem tão diferente da original que um praticante antigo nem reconheceria.
Temos crenças católicas, crenças com paradigmas totalmente alienígenas para as tradições nativas, agora misturadas com tradições que se apresentam como xamânicas. E importante observar isso para sabermos tirar os 500 anos de opressão e conquista do saber das Idades que havia nestas terras e em muitos de seus povos.
Mas os estudos nos revelam que nem só a destruição foi presente.
Alguns grupos, formados de poucos homens e mulheres conseguiram escapar as várias fases da conquista deste continente, que começa com a ascensão de povos imperialistas aqui mesmo, culminando nos Incas e Astecas até a invasão do continente pelos Iberos e depois por povos de várias procedência da Europa.
Estes homens e mulheres começaram a reavaliar seu conhecimento, seu saber, seu poder.
Por que eles, homens e mulheres aparentemente sabedores dos mesmos “mistérios” daqueles outros homens e mulheres sobreviveram, conseguiram escapar, o poder lhes foi “funcional”, enquanto outros (as) não puderam salvar seus povos, sequer puderam salvar a si mesmos?
Esta questão é fundamental, pois é uma questão de sobrevivência.
Magistas de apartamento, que se contentam com visões astrais e experiências em “outras dimensões”, quando virem sua casa invadida por um ladrão poderão ter uma noção do que estamos falando… Não basta “espiritualizar”.
Isso muda muito, pois ao invés de uma visão desse mundo como “inferior”, mais “denso” como muito do ocultismo vindo da Europa, prega, o Xamanismo vê esta realidade como “a outra face da moeda” e todos os outros mundos, todas as outras realidades, como “outra face da moeda”.
Há uma descrição da realidade como vasta cebola, estamos apenas numa das camadas da cebola, nem superior nem inferior a nada, apenas mais uma camada.
E estamos aqui e agora na vida cotidiana e é aqui e agora o lugar e a hora de provar se tua magia funciona para o mínimo que se espera, te proteger de fato, te manter vivo e presente.
Muitos(as) nativos(as) não conseguiram isso, morreram de forma na maior parte das vezes cruel pela insanidade dos Conquistadores, com as benção da Cruz.
Mas os (as) que sobreviveram continuaram a Tradição, de boca para ouvido. Aprofundaram seus estudos e práticas e descobriram um fato determinante:
“Poder pessoal”
Somos o poder pessoal que temos, quando nosso estilo de vida nos leva a armazenar e ampliar nosso poder pessoal os resultados do caminho se tornam plenos, operantes. Para quem apenas gasta energia sem nenhum senso, que apenas dissipa a energia que metabolizamos em nós, para essas pessoas a vida é sempre “complicada” .
Era o “poder pessoal” que salvara aqueles homens e mulheres e então o comportamento dos (as) praticantes de xamanismo se tornou uma busca de atitudes estratégicas, um agir não por princípios prontos, mas pelo uso equânime da energia pessoal.
Para tais praticantes conhecimento só existe, se posso expressar o que digo, conhecer em atos, pelo meu corpo, senão é só um “conto de poder”, tem seu valor, mas o que conta no Xamanismo são os “atos ” de poder. Não podemos esquecer que o Xamanismo vem de povos práticos, objetivos, onde a vida era um risco constante, onde sabiam da importância da harmonia dos ciclos da natureza, para o alimentar do corpo.
Entre estes povos existiam homens e mulheres, xamãs, sabiam que tinhamos um outro corpo, um corpo de pura energia e que aprendendo a desenvolver esse corpo e as percepções dele, podemos entrar em outras realidades, podemos realizar “prodígios”.
E um conjunto complexo de práticas foi mantido, práticas para ampliar a consciência, para entrar com pleno controle de si em outros mundos, para aprender a lidar com plantas e animais, com minerais, com seres de outras realidades e com outras realidades, com a energia pura, para que tudo isso pudesse ser estudado e usado para os fins devidos, os fins que cada xamã sabe sentir, pois antes de mais nada o xamanismo busca harmonia com a Vida, com a existência e sabe que quando estamos em harmonia com as forças que compõe a existência tudo flui melhor, os resultados do viver são muito mais satisfatórios.
Daí que é muito difícil encontrar alguém que trilhe verdadeiramente os caminhos do Xamanismo e esteja sempre infeliz, em crise ou resmungão de si e do mundo.
Quando recuperamos nossa plena sintonia com o Ser Terra uma insatisfação profunda, um estado de carência e incompletude que a maior parte dos seres humanos parece sentir some, pois a conexão plena como Ser Terra nos coloca em uma energia diferente, em uma condição vibratória que podemos chamar de “plenitude” tal sensação.
O xamanismo, pela sua práxis, libera conexões energéticas entre quem pratica e a natureza, desobstrui o fluir da energia tanto da natureza para conosco, como de nós mesmos para a natureza, assim sendo a energia fluindo livremente teremos um estado de SER que não permite esse tipo de emoção que apenas gasta energia, que não nos amplia ou realiza.
Agora é moda as pessoas justificarem seus comportamento com “preciso me liberar”, “não posso reprimir” e tal e com essa desculpa se entregam a seus caprichos e limites ao invés de trabalha-los de forma criativa, que permita mudar o foco, que permita desenvolver estilos de Ser e Agir que lidem de forma estratégica com nossa energia pessoal.
De fato repressão não é o caminho, o xamanismo propõe um estudo de nós mesmos em primeiro lugar, antes de ir estudar o que está a nossa volta, para evitar ficar decorando fórmulas prontas ao invés de sentir.
O xamanismo trabalha com o viajar até nossas dimensões de Sombra e de Luz e integrar ambas, com total força, sem minar nosso poder pessoal.
Desenvolver a sensibilidade, o xamanismo propõe que nos tornemos primeiro conscientes de nós mesmos, de quem somos de fato, do que somos de fato capazes de FAZER e não apenas racionalizar.
Precisamos nos observar para compreender que o xamanismo é uma abordagem completamente diferente da vida como um todo, do que a abordagem que nos ensinaram nesta civilização, ainda presa em paradigmas da era industrial, paradigmas que coisificaram a natureza, tornando-a morta e mera fornecedora de matéria prima.
O xamanismo vê tudo como uma realidade viva, consciente, há vários graus de consciência na Realidade, cada um operando com suas forças e princípios.
O ser humano entrou numa linha de vida ultra especializada, decodifica e compreende cada vez de forma mais complexa a vida e suas manifestações, DNA, Mundo sub-atômico, Teoria das Supercordas, mas VIVER foi deixado de lado pelo mero “sobreviver”.
Uma diferença fundamental entre os povos nativos e os civilizados é que nas aglomerações chamadas cidade a maior parte das pessoas não vive, sobrevive, geralmente em trabalhos que detesta, em situações e lugares que não gosta, sonhando que “um dia vai mudar”, mas geralmente morrendo antes de ver essa mudança, aí as crenças que tantos gostam de paraísos e promessas pós morte.
Interessante como as pessoas desta civilização foram levadas a crer que só os meios usados aqui tem valor, um defensor da atual civilização pode usar a tecnologia, as explicações científicas e tal como mostra da “superioridade” desta civilização, pode querer mostrar uma nave espacial explorando o sistema solar, mas levaria a sério o fato que os(as) xamãs em seus corpos de energia vão não só a outros planetas como a outros mundos?
São abordagens diferentes da realidade a que hoje temos e a dos(as) xamãs ancestrais, mas só a arrogância da atual civilização pretende fazer “inferior” o saber tradicional.
Viver, transformar de uma forma radical, profunda nossa relação com a realidade circundante, isso é “PRATICAR” Xamanismo e é bem diferente de “ler algo sobre xamanismo”.
O xamanismo é algo intenso, só de ” desejar” entrar em contato com tal caminho, quando efetivo o querer e real o caminho, já evocamos um tipo de energia que alimentada foi por milhares de anos por praticantes gerações incontáveis a dinamizaram, assim, conectar com estas correntes já colocam em ação forças sutis.
Assim, só deve se aproximar do xamanismo quem está de fato pronto, do contrário vai gerar muita confusão em sua própria vida, quando contraditoriamente quiser manter a vida que estará sendo soprada para longe pelos potentes e mágicos ventos da tradição xamânica.
Pois podemos usar aqui uma afirmação dos alquimistas: ‘Quando nos propomos a uma busca sincera da Verdade, a Verdade com a mesma sinceridade e empenho que revelamos, sai a nos buscar”.
O Xamanismo tem várias vertentes, herdeiras de caminhos diferentes, alguns caminhos xamânicos se perdem na aurora dos Tempos, outros foram criados mais recentemente, alguns tem a experiência acumulada de milhares de anos, incontáveis gerações de praticantes que foram melhor elaborando o conhecimento antes de passá-lo adiante. Outras tradições são interpretações recentes, feitas com alguns fragmentos que restaram após a conquista e perseguição dos povos nativos.
Vários povos deixaram profecias sobre a Tribo do Arco Íris, momento no qual, após a quase extinção do povo nativo, após a perseguição sistematizada do conhecimento ancestral, quando a Vida estivesse ameaçada, quando a Natureza houvesse sido poluída além de limites aceitáveis, uma nova tribo surgiria, com componentes de várias cores, eles herdariam o saber ancestral e juntos(as) ajudariam o Caminho da Harmonia a retornar.
Creio que estamos assistindo isso hoje, caminhos autênticos voltando a se revelar. Claro que devemos tomar cuidado com as charlatanices também presente, com os pseudo caminhos.
Mas todas as tradições tem seu valor, cada um deve procurar aquela que lhe fala mais forte ao coração, pois só o caminho que ressona no coração vale a pena ser seguido.
Dedicar-se a prática do Xamanismo exige um trabalho sério e profundo sobre nós mesmos, o “que fizeram de nós” o conjunto de condicionamentos e reações automáticas que nos programaram para ser não serve no Xamanismo. Xamanismo é um caminho de expansão da consciência mas antes de expandir a consciência precisamos “ter” consciência.
Há um modismo de xamanismo atualmente, o chamo de Xamanismo Fast Food. Deve ter seu papel, creio que tudo na realidade tem sua função, mas o Xamanismo que estou falando aqui não é este, não é um xamanismo onde alguns “iniciados” vendem iniciações por um “preço xamânico”, ou o xamanismo de fantasias e viagens psicológicas, confundindo o psicológico com o espiritual, que é algo muito mais amplo, o xamanismo de comprar objetos em lojas e acreditar que fazendo um curso de final de semana vai ganhar a carteirinha de “xamanista” .
O xamanismo que estou falando aqui é uma proposta profunda, solitária, só nós e a Eternidade por testemunha.
O Xamanismo que estou falando aqui é fruto da coragem de abrir mão de tudo que nos ensinaram, de tudo que “fizeram de nós ” e ousar ir além, ousar ir até aquele lugar silêncio, interior, intocado de qualquer programação, onde no silêncio, além da balburdia das teorias prontas, possamos ouvir nossa própria voz, possamos perceber as tremendas potencialidades que guardamos em nós.
É um Xamanismo que sabe que tudo que existe emanou de uma misteriosa Fonte, a Fonte que vai além de toda nossa compreensão.
Este xamanismo aprendeu que o grande desafio inicial é nossa realização aqui e agora, no espaço tempo onde estamos, ou corremos o risco de cair em fantasias e projeções de nossas carências e medos na realidade energia que existe fora desta realidade…
É nascer para cada dia, é ousar morrer a cada noite, recolher-se no silêncio interior para que durante o sono nossa outra metade seja capaz de viver realidades outras, sem nenhum limite e a força destas duas partes que somos nós se manifeste na plenitude de nossas vidas, em harmonia.
Sobre isso falaremos aqui de tempos em tempos, sobre o Caminho , lembrando que há enorme diferença entre falar sobre o Caminho e trilhar o caminho.
Nuvem que passa, falei, passo o bastão
Ho!!!