“Enquanto pensar que foi uma vítima, sua vida será um inferno. E assim, suas promessas e compromissos de derrota permanecerão válidos. O que nos torna infelizes é ansiar, desejar. E no entanto, se aprendemos a reduzir nossos desejos e necessidades a zero, a menor coisa que vir ao nosso encontro será um presente verdadeiro. Ser pobre ou necessitado é apenas uma ideia; assim também é o ódio, a fome, ou a dor.
– Não posso crer nisso realmente, dom Juan. Como é que a fome e a dor podem ser apenas idéias?
– Para mim são apenas idéias. É só isso que eu sei e passei. Já consegui essa proeza. O poder de fazer isso é só o que temos, preste bem atenção, para opor às forças de nossas vidas; sem esse poder somos lixo, poeira no vento.
– Não duvido de que o tenha conseguido, dom Juan, mas como é que um homem simples como eu podem conseguir isso?
– Cabe a nós, como indivíduos isolados, opor-nos às forças de nossas vidas. Já lhe disse isso inúmeras vezes; só como guerreiro pode-se sobreviver no Conhecimento. Um guerreiro sabe que está esperando e o que está esperando; e enquanto espera, não precisa de nada, e assim qualquer coisinha que ele receba, é mais do que pode alcançar. Se ele precisa comer, seu poder dá um jeito, pois não tem fome realmente; se alguma coisa lhe machuca o corpo, seu poder dá um jeito de parar com aquilo, pois não sente dor. Ter fome ou sentir dor significam que o homem se largou e sucumbiu,não sendo mais guerreiro; e as forças de sua fome e de sua dor o destruirão.”
(Uma Estranha Realidade, Carlos Castañeda)