“Como pode ser abordado o tema de reflexos e auto-reflexos? Ao invés de meramente decidir o que é o que, como decidimos? Por certo que através do auto-reflexo podemos trazer para a superfície aspectos enterrados, desconhecidos. O Conhecimento de feitiçaria da linhagem de Don Juan mostra-se absurdo em muitos níveis. Observando cuidadosamente esse tema, podemos chegar ao núcleo do absurdo, nem que seja por um momento. A característica essencial da consciência de ser é a autoconsciência, que, em outras palavras, pode ser chamada de ‘consciência da consciência’. Ao observar algo conscientemente, sabemos que o observamos conscientemente. São duas características que ocorrem simultaneamente, muito embora a autoconsciência seja anterior a consciência em si. De alguma forma, nossa capacidade de abstração permite que a autoconsciência apareça como fenômeno. Ela simplesmente emerge, somaticamente.
Pois bem, de um lado temos a razão, o tonal, o conhecido, que mantem-se estável através das auto-reflexões de todos os que concordam com o mundo tonal. Quem ousaria abandonar a autoconsciência? Para isso é necessário um árduo trabalho. É preciso, deliberadamente, através da própria autoconsciência, tornar-se consciente de métodos que nos possibilitem simplesmente abandonar a própria autoconsciência. E isso é a liberdade. Como fazer isso? Cada um faz ao seu modo, claro. Mas como isso se da? Do lado da razão temos o mundo do Intento, da Vontade, que liga-se a Ver e Ensonhar. Vendo e Ensonhando e também Sentindo, aprendemos a perceber que realmente não sabemos nada. A chave é ‘tornar-se consciente da consciência de [ser] nada’… ou ainda, ‘tornar-se autoconsciente de nada’. É um processo de estruturar um inventário, sobriamente.. e depois lança-lo pelos ares! Quem disse que precisamos ser autoconscientes? Mas é preciso fazer o inventário…
E antes de tudo, é preciso ter a disposição a energia necessária para desprender-se da autoconsciência (auto-reflexão).
Outro ponto é que quando observamos a nós mesmos, mudamos a nós mesmos. A maneira que você anda pela rua é diferente quando, de repente, você passa por uma porta ou janela espelhada e vê a si mesmo andando na rua. Você fica desajeitado, acha engraçado, endireita a coluna, muda o passo, anda devagar… Ser autoconsciente é andar sempre com um espelho do lado, refletindo nossos passos e nos impedindo de ser livres de verdade. Como um bisbilhoteiro que não deixa sua vida caminhar sozinha, em paz… sendo que o bisbilhoteiro é você mesmo! rsrs É essencial deixar claro que isso não se trata de indiferença bruta new age hippie ‘dana-se tudo’. Isso é mais um exercício de desprendimento. Abandono deliberado. A única maneira de livrar-se da autoconsciência é autoconscientemente livrar-se dela!”
– Izidoro