Unidades de energia seladas
Em outra de suas palestras, falando sobre o ovo luminoso, Carlos afirmou que somos todos unidades seladas de energia. Mas, anteriormente, ele próprio dissera algo que parecia contradizer essa afirmação: que a importância pessoal drena a nossa energia. Quando surgiu a oportunidade apropriada, perguntei a ele sobre esse assunto.
– Não é uma contradição em absoluto – respondeu -, esse é apenas mais um mal entendido, gerado pela insuficiência das palavras. Além disso, se você adicionar à essa confusão a costumeira dificuldade para se referir aos fenômenos energéticos, então você já pode ter uma idéia de como é complicado, às vezes, explicar as coisas.
“O fato é que, na verdade, não há palavras em nossos idiomas capazes de descrever certos aspectos da bruxaria; É por isso que mal-entendidos ocorrem. Como apoio para evitar esse problema, tenho tomado palavras emprestadas de várias línguas e, inclusive, criado algumas novas, mas o assunto é mais sério do que parece, porque, para o homem moderno, se algo não pode ser expresso é porque não existe. “
Para me fazer ver que nem tudo pode ser transmitido através da linguagem, me apresentou várias palavras que não têm uma tradução literal e que exigem uma longa explicação para serem esclarecidas. Por exemplo, disse que o conceito oriental de “chi”, como energia, descreve apenas parte de seu profundo significado. Da mesma forma, na língua inglesa não há uma diferença intrínseca entre ser ou estar, uma vez que ambos os conceitos são expressos pelo verbo to be. Ele me assegurou que, em alguns países nórdicos, não há equivalente para a palavra “paixão”, de modo que, embora sintam essa emoção, não podem explicá-la. Com tudo isso, ele queria me tornar consciente de que é muito fácil se perder nos labirintos das palavras e seus significados, e é aí que nascem as confusões.
Seguiu dizendo que, no momento do nascimento, todos nós recebemos uma quantidade básica de energia, que é a soma da paixão que nossos pais verteram durante a concepção.
– Essa energia foi encapsulada como parte do dom da vida. Esse é todo o nosso capital, aquilo que somos. Agora, é responsabilidade de cada um de nós, individualmente, o que fazemos ou deixamos de fazer com ela.
“O processo de estar vivo gera uma transformação da energia básica em um subproduto: a percepção, a qual gera experiência, que é armazenada como memória. Juntas, elas produzem a cobiçada autoconsciência.
“O nível de consciência de um indivíduo é medido pela sua capacidade de estar atento a si mesmo e ao seu ambiente. A atenção, portanto, é o elemento chave na transformação e enriquecimento da energia bruta em consciência refinada.
“O objetivo dos brujos é o engrandecimento da consciência; portanto, exercitam constantemente a atenção. Projetam deliberadamente exercícios para evitar a distração e, assim, aumentam significativamente a capacidade de concentração. “
Comentou que para ele a escultura tinha sido muito útil para cultivar a atenção; Dessa forma, ele aprendeu que, quando o diálogo interno é cancelado, dá-se o melhor de si em qualquer coisa que esteja sendo feita.
– Como é que a consciência é ampliada? – perguntei.
– Cada um está desenvolvendo sua energia básica de maneira diferente durante a vida. Sabendo da importância de cuidar dela, os guerreiros a economizam e a acumulam através de atos de impecabilidade. Para eles, a energia básica é como uma semente que dorme e sonha sonhos de plenitude, nos quais libera seu tremendo potencial e se transforma em uma árvore frondosa que produz frutos.
“Da mesma forma, eles sabem que sua energia potencial também pode crescer e se expandir além de seus limites. De fato, teoricamente falando, não há limites para o engrandecimento da consciência; em princípio, ela poderia continuar crescendo e crescendo, talvez para sempre. Tudo o que é necessário para realizar isso é a impecabilidade. Essa é a razão para o esforço contínuo dos brujos em serem impecáveis: estão lutando para serem mais conscientes.
“Mas, cuidado!, Porque a energia também pode ser usada até que não sobre mais nada.” Explicou que a energia pode ser gasta inconscientemente, como acontece geralmente com as pessoas que estão expostas à inclemência do ego e que passam o tempo inteiro disparando suas emoções em todas as interações que mantêm.
– Os brujos, em vez de gastarem suas vidas dissipando seu poder pessoal em relacionamentos estéreis, descobriram que é possível economizá-lo por meio de atos de sobriedade e impecabilidade. Assim, eles usam a arte da espreita para se espreitarem a si mesmos, não para enganar os outros.
Ele disse isso com um toque de sarcasmo, pois estava ciente do meu frágil intento nesse sentido. Ele continuou:
– Para os videntes, a consciência tem a aparência de uma borracha viscosa transparente e muito brilhante, que forma uma camada ao redor do ovo luminoso; É como um brilho que o envolve. Essa luminescência, ainda que devesse ser abundante, está quase ausente em nossa espécie. A razão é que a consciência gerada pela experiência de estar vivo é constantemente obliterada pela vida cotidiana, pela rotina. Esse é o preço que nos cobra o Universo Predatorial por nos dar a vida.
Eu olhei para ele ansioso para saber mais; ele continuou:
– Os meios pelos quais o Universo nos cobra este imposto são os voladores, o aspecto predatorial da energia cósmica. Para eles, somos as galinhas; Eles nos veem da mesma maneira que vemos o gado: como fonte de alimento. Assim como nos aproveitamos de outras espécies, também somos ordenhados e consumidos sem misericórdia pelos voladores.
“Nunca se questionou o por que dos altos e baixos emocionais das pessoas, ou a dificuldade que elas têm em lembrar sonhos e, às vezes, até detalhes de eventos cotidianos? Esse é o trabalho do predador, que extrai tudo de melhor em nós. “Perguntei-lhe quanta energia sobrava a alguém depois de ser “ordenhado”. Ele respondeu:
– O que temos visto é que, geralmente, o nível de consciência das pessoas não excede a altura do dedão do pé. Podemos medir o nível de energia de uma pessoa pelo período de tempo em que consegue manter sua atenção fixa. Você pode ver por si mesmo, observe as pessoas ao seu redor e verá que quase ninguém consegue se concentrar por mais de alguns segundos. É assim de fodidos que estamos como raça!
“Mesmo que alguém tente ficar atento por mais tempo, é difícil conseguir, porque a consciência que é acumulada pelo processo de estar vivo é constantemente cerceada pelos voladores; consequentemente, o brilho da consciência, nunca chega a se desenvolver, porque os voladores não o permitem.
“A mente é o volador, aconselhando-nos minuto a minuto que nos comportemos como imbecis. É por isso que gastamos nossas vidas desperdiçando nossa energia em caprichos e explosões inúteis de ego. Por que você acha que quase ninguém consegue deter o diálogo interno? Para uma espécie consciente como a nossa, isso não deve ser tão difícil.
– E como eles nos consomem? – perguntei, com um nó na garganta.
Imitando o tom constrito da minha voz, ele respondeu em um tom zombeteiro:
– Nos comem de garfo e faca.
Então riu bem-humorado e, com um tom mais sério, acrescentou:
– Consomem nossa energia toda vez que a dissiparmos na forma de sentimentos e emoções.
– Qualquer tipo de emoção?
– Claro. As emoções agem como gatilhos de energia, e há sempre um volador por perto, pronto para tirar proveito.
“Dá na mesma com qualquer tipo de emoção que seja gerada, seja amor, ódio, repulsa ou ternura: a intensidade energética é catapultada para fora das fibras do ovo luminoso na forma de ondas. Essa energia que é expulsa é o que os voladores consomem.
“Interagir com o mundo colocando o ego à frente nos força a gastar a energia continuamente. Toda vez que alguém se irrita, você pode ter certeza de que há um volador por perto para se aproveitar do desperdício. O mesmo acontece quando emoções fortes são geradas, como em competições esportivas, ou quando vamos ao cinema ou ao teatro, onde nos induzem a sentir medo, angústia, amor, ternura, etc. Essas emoções também atraem nossa clientela. É por isso que os brujos recomendam investir em vez de se divertir.
“Na verdade, estamos sob fogo cruzado. A sociedade, nosso sistema de vida, está projetada para nos ordenar continuamente. Ao reagir ao mundo, drenamos de nossa massa luminosa a preciosa energia da autoconsciência. Em geral, só temos o suficiente para continuar vivendo dia após dia.
“Essa é a razão pela qual as pessoas vivem como vivem. Elas são como robôs: acordam, vão trabalhar, para vender seu tempo de vida para quem der o maior lance, em troca de meios para seguir vivendo, com o único propósito de continuar a trabalhar para produzir mais energia para o benefício de terceiros. É realmente um círculo vicioso terrível, difícil de quebrar “.
Respondendo à minha pergunta sobre se era possível para as pessoas comuns perceberem essa situação, ele afirmou que, em teoria, é possível alcançar a condição de distanciamento emocional por si mesmo, raciocinar e chegar a conclusões a respeito de nossas prioridades energéticas; mas, na prática, não há como uma pessoa envolvida em um contexto de deterioração da luminosidade reagir a tempo.
– Nunca encontrará a energia suficiente, estará sempre um passo atrás da ação necessária – pontuou.
– Então, o que podemos fazer?
– Como dependemos da nossa própria força, só temos uma opção: preservar a quantidade de energia que trouxemos ao nascer. Guerreiros impecáveis não precisam de ninguém para guiá-los, porque economizar energia é algo óbvio para aqueles que estão tentando ser mais conscientes.
Perguntei-lhe se a depredação dos voladores danifica nossa energia definitivamente ou se podemos reverter o processo. Explicou:
– Em circunstâncias normais, o processo de predação de energia pode ser revertido, para que possamos recuperar a medida completa da nossa luminosidade. Isso é possível porque o que os voladores consomem não é a energia básica em si, mas uma energia processada, transformada em sentimentos e emoções. Isso é o que é projetado da massa energética quando disparamos nossas emoções. A energia básica ainda está lá, como a raiz da árvore da vida pois, como eu disse, essa energia está selada.
Ficamos em silêncio por um momento. A cabeça estava girando, porque as implicações do que ele me disse eram astronômicas. Parecendo adivinhar meus pensamentos continuou:
– A energia está aí para ser usada. É como se fosse a chama de um fogo que, uma vez iniciado, pode apenas ser usada ou desperdiçada. A Impecabilidade consiste em usar a energia para gerar mais consciência. Nesse processo, o guerreiro sempre escolhe os caminhos em que desfruta seus passos, onde vive intensamente a cada minuto, porque sabe que a chama da vida não é eterna.
“Estamos imersos em um mundo de mistérios, e o maior de todos os prazeres é ir desvendando esses mistérios um por um, como quando você é criança e tudo é novo e vibrante. É assim que a energia economizada nos permite dar saltos um pouco mais amplos, até que acabamos alçando vôo.
“As possibilidades para aqueles que conseguem economizar energia são verdadeiramente extraordinárias, porque chegamos à posição de aumentar a consciência a níveis inconcebíveis para o homem comum. Dessa maneira, é até mesmo possível alcançar a consciência total”.
(O Segredo da Serpente Emplumada, Armando Torres)