“Existe a possibilidade de Espreitar e Espreitar a Si mesmo na Segunda Atenção? A ferramenta da Espreita é a atenção. Quando o Espreitador espreita algum item do seu casulo, alguma lembrança sobre algum acontecimento, alguma cena, algum objetivo ou meta, alguma coisa no seu entorno, ou na sua própria imaginação, é a Primeira atenção quem está espreitando. Quando o Espreitador passa a espreitar seu próprio tonal pessoal, é o princípio da Espreita de Si.
O primeiro grande ponto de transição acontece quando a Primeira atenção começa a espreitar a si mesma. Começa a perceber sua forma instável de focar sobre as superfície das coisas, sua dificuldade de se manter constante em um só lugar, sua tendência de se deixar levar por pensamentos e imaginações, sons e ruídos e luzes…
Principalmente, o Espreitador percebe que sua experiência é DETERMINADA por aquilo em que sua primeira atenção está focada, na mesma medida em que é inexistente para aquilo que está sendo ignorado por ela. Se se foca em algo triste, há sentimento de tristeza. Se é algo feliz, há alegria. Na violência, há medo… e assim em diante. Um espreitador poderia por exemplo se encontrar num lugar onde percebe uma belíssima flor, e logo ao lado, um homem absolutamente miserável. E poderia ter duas experiências muito diferentes ao concentrar sua atenção em uma ou outra dessas visões.
Os videntes explicam isso como um processo de “desnate”, onde por hábito enfatizamos certos aspectos da nossa percepção em detrimento de outros, em detrimento da nossa possibilidade perceptiva total. Nesse processo de Espreitar-se a Si mesma, algo começa a se separar da primeira atenção. Um sentido de Eu pouco a pouco toma consciência de si, como estando a parte dela, observando-a. Esse sentido de si não é criado nem produzido, é apenas uma faceta dormente que começa a despertar. É algo que toma consciência de tudo que ocorre no nosso entorno, o tempo todo, incluindo os movimentos da primeira atenção.
Esse Algo que toma as rédeas da Espreita de Si é a Segunda atenção. E nesse momento, pode se dizer que se está espreitando a Si mesmo na Segunda atenção.
A medida que a Espreita de si prossegue, a Segunda atenção começa a descobrir sua própria natureza. Percebe primeiro que, nela, os limites da primeira atenção perdem o sentido. Ela é em si um campo vasto, silencioso, transparente. O Espreitador percebe sua paz inerente, e a forma como ilumina todo o campo perceptivo, abarcando a totalidade do ser. Nota sua liberdade imanente com relação aos movimentos que acontecem dentro da percepção. Percebe que a Segunda atenção é estável e imóvel. Percebe que, tomando como base apenas a sua experiência direta, ela é o único elemento constante e inalterado em sua experiência. Percebe que os processos temporais da primeira atenção não têm efeito sobre ela. Percebe que seu denominador comum é a consciência de ser indistinta e impessoal.
Pode se dizer que, enquanto a Primeira atenção existe no mundo, o mundo existe na Segunda atenção.
Pra muitos esse é o fim do caminho. A morte do corpo é transcendida e o guerreiro pode prosseguir sua viagem na Segunda atenção, abrindo mão de suas memórias pessoais, mas conservando a Individualidade, a Consciência.
Porém, se o Espreitador escolhe ou é compelido a levar mais adiante e a fundo sua Espreita de Si, e não se contenta com a identidade unificada adquirida na Segunda atenção, ocorre que uma conscientização ainda mais profunda vai se desidentificando da Segunda atenção, a medida que ela, como um todo, é espreitada.
E quando a Espreita de si é aplicada pra descobrir a identidade desse centro, capaz de observar até mesmo a Segunda atenção, pode se dizer que se está espreitando a Si mesmo a partir da Terceira Atenção. É quando o Espreitador percebe que está espreitando o seu próprio ovo luminoso, seu próprio sentido de ser, e que há algo mais aí realizando a espreita. Mas quando volta a atenção para localizar esse “algo”, esse sentido de Eu, chega apenas a um ponto onde a atenção se desintegra na nulitude absoluta. Percebe que o próprio Ovo está contido dentro de algo maior. Que a sua luminosidade é observada por algo que só pode ser descrito como uma escuridão insondável, imperceptível pela Segunda atenção ou pela Primeira, mas que se torna sutilmente consciente de si mesma, num estado em que tudo é anulado e o sentido de Eu desaparece.
Pra terminar, uma passagem do Porta para o Infinito, nas palavras do mestre Juan Matus:
“- O que havia naquela cena, dom Juan? O que é que era tão importante?
– Não sei. Não estava acontecendo comigo?
– O que quer dizer?
– A experiência era sua, não minha.
– Mas você estava comigo. Não estava?
– Não estava, não. Você estava sozinho. Eu lhe disse várias vezes para observar tudo, porque aquela cena era só para você.
– Mas você estava a meu lado, Dom Juan.
– Não estava, não. Mas não adianta falar a respeito. Tudo o que eu possa dizer não faz sentido, porque naqueles momentos estávamos no tempo do nagual. As coisas do nagual só podem ser presenciadas pelo corpo, não a razão.
– Se não estava comigo, Dom Juan, quem ou o que era a pessoa que eu via como você?
– Era eu e no entanto eu não estava lá.
– Onde estava, então?
– Estava com você, mas não ali. Digamos que estava em volta de você, mas não no lugar exato aonde seu nagual o levara.
– Quer dizer que não sabia que estávamos no mercado?
– Não sabia não. Só fui andando, para não perdê-lo.” (Porta para o Infinito)
– Jeremy Christopher
desde 1999 nao leio alguem que entende do assunto q esta falando
vc ainda tem um tempo livre pra conversar ?