“Penso que o ‘x’ da questão é que o conceito da mente ser uma instalação alienígena é tão estapafúrdio que minha mente se recusa considerá-lo com seriedade”, disse eu, sentindo que tinha feito uma descoberta genuína.
Don Juan não fez nenhum comentário sobre o que eu disse. Continuou explicando o assunto referente às duas mentes como se eu não tivesse dito uma palavra.
“Resolver o conflito das duas mentes é uma questão de intentá-lo”, disse ele.
“Os feiticeiros evocam o intento pronunciando a palavra intento em voz alta e clara. O intento é uma força que existe no universo. Quando os feiticeiros a evocam, ela vem até eles e fixa o caminho para a obtenção do que for, o que significa que os feiticeiros sempre conseguem o que se propõem”.
“Você quer dizer, don Juan, que os feiticeiros conseguem tudo o que quiserem, mesmo as coisas mesquinhas e arbitrárias?” Perguntei.
“Não, não quis dizer isso. O intento pode ser chamado, é claro, para qualquer coisa”, replicou ele, “mas os feiticeiros descobriram, com grande esforço, que o intento só vem até eles apenas para realizarem algo que seja abstrato. Essa é a válvula de segurança para os feiticeiros; não fosse assim, eles seriam insuportáveis. No seu caso, evocar o intento para resolver o conflito de suas duas mentes, ou para ouvir a voz de sua mente verdadeira, não é algo mesquinho ou arbitrário. Muito pelo contrário; é algo etéreo e abstrato e ainda assim vital para você como nada mais pode ser”.
(O Lado Ativo do Infinito, Carlos Castañeda)