“A arte de espreitar, como já disse, tem a ver com a fixação do ponto de aglutinação. Através da prática os feiticeiros antigos descobriram que ainda mais importante do que deslocar o ponto de aglutinação é fazer com que ele fique no novo posicionamento, onde quer que seja.
Explicou que, se o ponto de aglutinação não ficar estacionário, não há possibilidade de percebermos coerentemente. O que perceberíamos seria um caleidoscópio de imagens desassociadas. Por isso os feiticeiros antigos punham tanta ênfase no sonhar quanto na espreita. Uma arte não pode existir sem a outra, especialmente para o tipo de atividade em que eles estavam envolvidos.
– Quais eram essas atividades?
– Os feiticeiros antigos chamavam-nas de complexidades da segunda atenção e de grande aventura do desconhecido.
Dom Juan disse que essas atividades eram resultantes dos deslocamentos do ponto de aglutinação. Os feiticeiros antigos aprenderam não somente a deslocar seu ponto de aglutinação para milhares de posicionamentos na superfície ou no interior de sua massa energética, como também a fixar o ponto de aglutinação nessas posições, e assim manter indefinidamente a coesão.
– Qual é o benefício disso, Dom Juan?
– Não podemos falar sobre benefícios. Só podemos falar sobre resultados finais.
Explicou que a coesão dos feiticeiros antigos era tamanha a ponto de permitir que se tornasse perceptivo e fisicamente tudo que fosse ditado pelo posicionamento específico de seu ponto de aglutinação. Podiam transformar-se em qualquer coisa para a qual tivessem um inventário específico. Segundo ele um inventário era a relação de todos os detalhes de percepção envolvidos em tornar-se, por exemplo, jaguares, pássaros, insetos etc. etc.”
(A Arte do Sonhar, Carlos Castañeda)