“Quando o ponto de aglutinação se move e atinge o lugar da não-piedade, a posição da racionalidade e do bom senso se enfraquecem.
O conhecimento silencioso é algo que todos nós temos, algo que tem completo domínio, conhecimento completo de tudo. Mas não pode pensar, portanto, não pode falar sobre aquilo que sabe.
Os bruxos acreditam que quando o homem tornou-se ciente de que sabia, e quis estar consciente do que sabia, perdeu de vista o que sabia. Este conhecimento silencioso, que você não pode descrever, é, claro, o Intento – o Espírito, o Abstrato. O erro do homem era querer conhecer isso diretamente, da maneira como ele conhecia a vida cotidiana. Quanto mais ele queria, mais efêmero isso se tornava.
O homem abandonou o conhecimento silencioso em troca do mundo da razão. Quanto mais se apega ao mundo da razão, mais efêmero o Intento se torna.
A origem da ansiedade que toma um aprendiz com a velocidade de um incêndio é o movimento súbito de seu ponto de aglutinação. Acostume-se à idéia de ataques recorrentes de ansiedade, porque o seu ponto de aglutinação continuará a se mover.
Qualquer movimento do ponto de montagem é como morrer. Tudo em nós é desconectado, depois reconectado novamente a uma fonte de poder muito maior. Essa amplificação de energia é sentida como uma ansiedade mortífera. Quando isso acontece, basta aguardar. A explosão de energia passará. O que é perigoso é não saber o que está acontecendo com você. Uma vez que você sabe, não existe perigo real.
O homem antigo sabia, da maneira mais direta, o que fazer e a melhor maneira de fazê-lo. Mas, como ele se desempenhava tão bem, ele começou a desenvolver uma sensação de si mesmo, o que lhe deu o sentimento de que poderia prever e planejar as ações que costumava realizar. E assim surgiu a idéia de um “eu” individual; um eu individual que começou a ditar a natureza e o alcance das ações do homem.
À medida que o sentimento do eu individual se tornou mais forte, o homem perdeu sua conexão natural com o conhecimento silencioso. O ser humano moderno, sendo herdeiro desse desenvolvimento, encontra-se tão irremediavelmente separado da fonte de tudo, que tudo o que ele pode fazer é expressar seu desespero em atos violentos e cínicos de autodestruição. A razão para o cinismo e o desespero do homem é o resquício de conhecimento silencioso que sobra nele, que faz duas coisas: uma, dá ao homem um vislumbre de sua conexão ancestral com a fonte de tudo; e dois, faz com que o homem sinta que sem essa conexão, ele não tem esperança de paz, de satisfação, e de realização.”
(O Poder do Silêncio, Carlos Castañeda)