“Contei a Don Juan que naquela ocasião eu também tive a noção de que parar o diálogo interior implicava algo mais do que simplesmente cancelar as palavras que eu me dizia. Todo o meu processo de pensar havia parado e eu me sentira praticamente suspenso, flutuando. Essa noção me provocara uma sensação de pânico e tive de recomeçar meu diálogo interior, como antídoto.
– Já lhe disse que o diálogo interno é o que nos prende à terra – disse Dom Juan. – O mundo é isso e aquilo somente porque falamos conosco dizendo que ele é isso e aquilo.
Don Juan explicou que a passagem para o mundo dos feiticeiros se abre depois que o guerreiro aprende a parar o diálogo interno.
– Modificar nossa concepção do mundo é o ponto nevrálgico da feitiçaria – disse ele. – E parar o diálogo interior é o único meio de conseguir isso. O resto é só enchimento. Agora você está em condições de saber que nada do que você viu ou fez, com a exceção de ter parado o diálogo interior, poderia só por si ter modificado alguma coisa em você, ou em sua concepção do mundo. A condição, naturalmente, é que essa modificação não seja perturbada. Agora, você pode compreender por que o mestre não domina seu aprendiz. Isso só provocaria obsessão e morbidez.”
(Porta para o Infinito, Carlos Castañeda)