“Don Juan disse que o ponto de aglutinação é responsável também por fazer a primeira atenção perceber em termos de aglomerados. Um exemplo de um aglomerado de emanações que recebe enfase em conjunto é o corpo humano como o percebemos. Outra parte do ser total, o casulo luminoso, nunca recebe ênfase e é relegada ao esquecimento porque o efeito do ponto de aglutinação é não somente de nos fazer perceber em termos de aglomerados, mas também de nos fazer ignorar emanações.
Quando o pressionei por uma explicação sobre o ato de aglutinar ele respondeu que o ponto de aglutinação irradia um brilho que agrupa porções das emanações encasuladas. Essas porções então se tornam alinhadas, enquanto porções, com as emanações livres. O agrupamento é produzido até mesmo quando videntes lidam com as emanações que nunca são usadas. Sempre que elas são enfatizadas, as percebemos do mesmo jeito que percebemos os aglomerados da primeira atenção.
“Um dos maiores momentos que os novos videntes tiveram”, ele prosseguiu, “foi quando eles descobriram que o desconhecido é meramente as emanações descartadas pela primeira atenção. O desconhecido é um assunto enorme, mas um assunto, ainda assim, onde aglutinações podem acontecer. O incognoscível, por outro lado, é uma eternidade onde nosso ponto de aglutinação não tem possibilidade de aglutinar nada.”
(…)
“E quanto às emanações que estão dentro do casulo mas fora dos limites da faixa humana?” Perguntei. “Podem ser percebidas?”
“Sim, mas de formas realmente indescritíveis”, ele disse. “Elas não são o desconhecido humano, como no caso das emanações não utilizadas da banda humana, mas o desconhecido quase incomensurável onde os traços humanos não aparecem de todo. É realmente uma área de tal esmagadora vastidão que os melhores dos videntes ficariam em dificuldade ao tentar descrevê-la.”
Insisti mais uma vez que me parecia que o mistério estava obviamente dentro de nós.
“O mistério está fora de nós”, ele disse. “Dentro de nós temos apenas emanações tentando quebrar o casulo. E este fato nos aberra, de um jeito ou de outro, sejamos homens comuns ou guerreiros. Apenas os novos videntes lidam com isso. Eles lutam para Ver. E por meio das mudanças de seus pontos de encaixe, eles chegam a realizar que o mistério é perceber. Não tanto o que percebemos, mas o que nos faz perceber.”
(O Fogo Interior, Carlos Castañeda)