Sentamos na cozinha, onde me entregou um prato de ensopado. Enquanto comíamos, ela explicou que o poder de mudar dependia da energia de cada um. Apresentou então a tese da bruxaria de que a excitação sexual dos pais no momento da concepção determinava a configuração energética do bebê.
— O que isso significa, Clara? – perguntei.
— Se houve pouca ou nenhuma excitação durante o ato sexual, a criança nascida dessa união será tão aborrecida quanto uma moeda de cinco centavos, – explicou -. Por outro lado, se ambos os pais estavam excitados então a criança terá energia e o otimismo para enfrentar a vida e se deliciar com o que quer que se apresente.
— E o que acontece se apenas um dos pais estava excitado? – perguntei.
— Me diga você, – respondeu ela, olhando para mim -. Você deveria saber por experiência pessoal.
— A pessoa se entusiasma por um tempo e logo se apaga, – admiti -. A gente é desequilibrado e instável.
Clara consentiu com a cabeça.
— Sabem que, em última instância, não têm energia para continuar com o que quer que comecem. Portanto, se dão por vencidos. Nunca dão frutos. São derrotados antes mesmo de começar.
— O que se pode fazer a respeito? -. Perguntei-lhe.
— Podem apertar os cintos e intentar a si mesmos diferentes, – disse.
— Como se intentam a si mesmos diferentes?
— Uma pessoa com pouca energia tem que se projetar fora de si mesma. Tem que se vincular com um ensonho diferente. Tem que ensonhar-se de novo.
— Ensonhar-se de novo soa como uma metáfora, – disse, suspirando -. É realmente possível mudar?
— Certamente é, – disse Clara -. Mas primeiro você tem que recapitular sua vida indisciplinada e vomitá-la. Então você começa a ensonhar um novo ser, com vigor e muita energia de sobra. Pouco a pouco, você desperta o corpo de energia até que suas ações e sentimentos correspondam ao seu novo ser. Cada ato forte e preciso reforça o corpo ensonhado, e seu ser ensonhado dará poder a seus atos diários. Dessa maneira você sobe nas asas do intento.
(Taisha Abelar, Textos Inéditos)