Não necessariamente. A resposta aparentemente mais óbvia, racionalmente falando, seria que sim, segundo o entendimento de que se apaixonar significa perder seu desprendimento e sua capacidade de (se) espreitar, e cair num turbilhão de emoções descontroladas em choque com a autoimportância pessoal.
Mas a paixão PODE ser uma aliada e uma força propulsora no caminho do conhecimento SE for alinhada com o intento inflexível, ou seja: se o guerreiro usa o impulso da paixão e a transforma numa intenção inflexível pela mulher pela qual se apaixonou, e SE for usada como porta para o amor consciente por uma guerreira.
Entendemos na família doble que a relação mulher-homem não é uma ilusão e uma distração da busca pelo Espírito, como dizem os “espiritualistas”, nem uma relação regida pela satisfação de instintos animais de macho e fêmea, como dizem os “materialistas”. Um guerreiro evolui em direção à sua energia feminina, e uma guerreira em direção à sua energia masculina – esse é o caminho incontornável para a totalidade. De forma que a mulher reflete o nagual para o homem, e o homem, o tonal para a mulher. Entendemos que era o propósito da natureza que os seres humanos crescessem em suas totalidades através dessa relação. Mas a ausência de intento inflexível – e do seu equivalente no feminino – o amor consciente, dentro da nossa sociedade, que poda a individualidade do homem e envenena o amor na mulher, promovendo o “interesse” e o “amor-e-ódio” no lugar, mantém um ABISMO entre masculino e feminino onde os lados se tornam incapazes de se compreender um ao outro. E aí sim, as relações são regidas no final das contas pelos instintos animais ancestrais, se tornando relações de machos-e-fêmeas com um verniz de condicionamentos sociais por cima.
O interesse egoísta no homem não serve de complemento para o amor numa mulher: cria um clima de instabilidade e insensibilidade onde o amor é minado pela ansiedade. Assim como o amor-e-ódio numa mulher não serve de complemento para o intento limpo e inflexível de um homem: cria um clima de desaprovação que sufoca o que há de melhor nele. Mas intento inflexível e amor se complementam perfeitamente: o amor consciente de uma mulher pela individualidade de um homem alimenta nele o impulso do intento limpo e faz sua individualidade crescer, e o intento limpo de um homem traz o apoio tonal estável e seguro para uma mulher poder se deixar guiar pelo amor, pela suavidade, pela criatividade e fluir com a vida. Isso aproxima ambas as energias, feminina e masculina, e estende uma ponte entre elas. E assim, pouco a pouco, a mulher também aprende a entrar em contato com o intento inflexível em si mesma, a descobrir sua própria individualidade e adentrar seu tonal. E o homem a entrar em contato com seu amor e sua sensibilidade ao entorno e a começar a se desprender da forma humana.
A paixão é uma porta para o intento inflexível SE o homem decide desenvolvê-la em intento por uma mesma mulher, ao invés de dispersar sua energia ou de desistir assim que as coisas não se apresentam da forma como esperava. Da mesma forma, serve de porta para o amor SE uma mulher decide atravessar a porta e acreditar no amor.
Mas sendo exclusivamente destros, a família doble entende que homens e mulheres dificilmente conseguem encontrar dentro de seus próprios seres a energia para estender essa ponte em direção ao outro lado: o homem tenderá a replicar em suas relações com o outro sexo a mesma relação que tem com o lado esquerdo do seu corpo, em geral exigindo apoio total mas sem dar espaço e voz, e a mulher a se submeter ou a odiar e romper com o outro sexo, impedindo ambos de integrarem em si mesmos de forma limpa e saudável a outra metade de suas totalidades.
Mas ao restaurarem o intento de alimentar também a outra metade de seus corpo-mentes, cada vez mais deixarão de ressoar com relações desequilibradas e mais aptos se tornarão a desenvolver o intento inflexível e o amor sano, tanto em suas vidas pessoais, quanto em suas relações, quando a paixão bater na porta.
Dicas da família doble #3