“Um aprendiz é alguém que se esforça para limpar e reviver seu vínculo com o Espirito – explicou. Uma vez que esse vínculo revive, não pode continuar sendo um aprendiz; mas até este dia, precisa de um propósito indomável, um intento inflexível, do qual, lógico, carece. Por esta razão, o aprendiz permite que o nagual lhe proporcione este propósito e, para fazê-lo, tem que renunciar a sua individualidade. Esta é a parte difícil.
Repitiu algo que me dizia com frequência: que voluntários não são bem vindos no mundo da bruxaria, porque já tem propósitos próprios e isso dificulta enormemente que renunciem a sua individualidade. Se o mundo dos bruxos exige ideias e atos contrários a esses propósitos, os voluntários simplesmente se cansam e vão.
– Reviver o vínculo de um aprendiz é uma verdadeira realização para um nagual – continuou dom Juan . Dependendo, lógico, da personalidade do aprendiz, a tarefa pode ser a coisa mais simples, ou uma das piores dores de cabeça que alguém possa imaginar.
Disse logo que do ponto de vista do Espírito, a bruxaria consiste em limpar o vínculo que temos com ele. O edifício que o Espírito ergue diante de nós, é em essencia, como uma oficina de franquia, na qual encontramos não tanto os procedimentos para franquear nosso vínculo com o intento mas sim o conhecimento silencioso que nos permite ganhar franquia. Sem esse conhecimento silencioso nao haveria nenhum procedimento que funcionasse.
Dom Juan disse que, por exemplo, uma descrição do que acontece no encontro inicial entre um nagual e seu possível aprendiz, do ponto de vista do bruxo, seria absolutamente incompreensível. Seria um perfeito disparate explicar que o nagual, graça a sua grande experiência, está usando algo inimaginável para nós: sua segunda atenção, um estado de consciência enriquecida através de seu treinamento na bruxaria. E a está usando para enfocar em seu vínculo invisível com um abstrato indefinível, com o propósito de fazer evidente o vínculo que a outra pessoa, o aprendiz, tem com esse abstrato indefinível.”
(O Poder do Silêncio, Carlos Castañeda)