“O poder é um negócio muito especial — disse dom Juan. — É impossível precisá-lo ou dizer o que realmente é. É uma sensação que a gente tem sobre certas coisas. O poder é pessoal. Pertence só à gente. Meu benfeitor, por exemplo, sabia fazer uma pessoa cair mortalmente doente, só de olhar para ela. As mulheres definhavam depois que ele punha os olhos sobre elas. No entanto, ele não fazia as pessoas adoecerem o tempo todo, somente quando estava envolvido o seu poder pessoal.”
— Como é que ele escolhia quais as pessoas que queria tornar enfermas?
— Isso eu não sei. Nem ele mesmo sabia. O poder é assim. Comanda a pessoa e, no entanto, obedece a ela. Um caçador de poder o apanha e depois armazena-o, como seu achado pessoal. Assim. o poder pessoal cresce, e pode haver o caso de um guerreiro que tem tanto poder pessoal que se torna um homem de conhecimento.
— Como é que a gente armazena o poder, Dom Juan?
— Isso também é outra sensação. Depende de que tipo de pessoa é o guerreiro. Meu benfeitor era um homem de temperamento violento. Armazenava poder por meio daquela sensação. Tudo o que ele fazia era forte e direto.
Deixou-me uma recordação de alguma coisa abrindo caminho, esmagando tudo em volta. E tudo o que lhe acontecia se passava assim.
Eu disse a ele que não entendia como é que o poder podia ser armazenado por uma sensação.
— Não há meio de explicar isso — falou, depois de uma longa pausa. — Terá de fazê-lo sozinho.
Pegou as cabaças com a comida e prendeu-as às costas. Entregou-me um cordão com oito pedaços de carne-seca presos e disse que o pendurasse ao pescoço.
— Isso é comida de poder — disse ele.
— O que a torna comida de poder, Dom Juan?
— É a carne de um animal que tinha poder. Um veado, um veado excepcional. Foi meu poder pessoal que o trouxe até mim. Esta carne nos sustentará durante semanas, meses se necessário. Mastigue bem alguns pedacinhos dela de cada vez. Deixe o poder penetrar lentamente em seu corpo.”
(Viagem a Ixtlan, Carlos Castañeda)